Inferno - Patrícia Melo - Companhia das Letras ♥

Olá Leitores ♥

Hoje trago para vocês mais uma resenha ótima. Dessa vez vou resenhar um livro que li no *ano passado*, mas que foi uma surpresa literária para mim. Primeiro porque não me lembrava a última vez que tinha lido um livro de uma autora brasileira e segundo por quando comecei a lê-lo eu não estão tão interessada. E depois das dez primeiras páginas ele foi simplesmente devorado. Então... vamos lá?

Título: Inferno
Classificação: 4 estrelas

Autora: Patricia Melo
Editora: Companhia das Letras
Ano/Selo: 2000
Páginas: 379
Você encontra no: Skoob

Sinopse: Inferno conta a saga de José Luís Reis- Zé Luís, apelidado Reizinho. Aos onze anos, quando se envolve com o tráfico, sua primeira tarefa é posicionar-se em algum lugar estratégico do morro, observar o movimento e avisar seu bando sobre a aproximação de qualquer pessoa estranha. O estado de alerta em que ele precisa se manter nesse trabalho vai se tornar uma regra decisiva em sua vida- para sobreviver- e, mais ainda, para ascender na hierarquia do crime-, é preciso vigiar a si mesmo e aos outros. Em Inferno, entretanto, o olho que de fato observa é o de Patrícia Melo. Ao narrar o percurso de Zé Luís- a infância pobre e, como a de todas as crianças, repleta de fantasias; o modo como ele encaminha seus afetos; os cálculos que aprende a fazer para conquistar a posição de líder-, a autora reconstrói a face caótica do mundo.

Resenha ♥

Julgando o livro pela capa, eu não fui com muita sede ao pote quando comecei a ler Inferno. Também confesso que era o primeiro livro nacional que eu ia ler em muito tempo, então fui receosa. Depois de começar a leitura fui me envolvendo cada vez mais na teia que foi sendo construída pela Patricia Melo.

O Livro trás a realidade dos meninos do tráfico do Rio de Janeiro de uma forma que nunca imaginaríamos. Você já parou para pensar como é ser uma criança pobre, que mora em um morro comandado por traficantes armados, que prometem manter a paz, caso você não se meta nas transações deles? Não né, suponho que não.

É assim que começa a historia de José Luís, o Reizinho (para os íntimos). Mora com a mãe (Alzira) que é empregada doméstica e com a irmã (Carolaine), que é uma completa vagabunda; nunca conheceu o pai e almejava que um dia ele fosse conhece-lo. Tem como vizinha a charmosa Suzana e a tira colo o namorado dela... O Miltão! E o "tão" não era só uma forma de enfatizar o quanto tinha poder, ele era o chefe do tráfico no morro do Berimbau. O cara que Reizinho admirava por sempre conseguir tudo que queria. O Miltão tinha dinheiro, tinha a Susana, tinha drogas e ajudava a comunidade. Ele construiu creches, fez um sistema de esgoto e distribuía carnes para a comunidade . E José Luís só era um olheiro que falhou em sua missão, um moleque que era espancado pela mãe e que detestava ter que viver as custas dela. Mas ele queria mais.

José Luís queria participar. Deixaria de estudar, nunca achou que fosse conseguir nada com estudo aquela altura do campeonato, ele queria esta aonde Miltão estava, queria entrar no jogo, queria dinheiro. Pediu emprego a Miltão. Não foi fácil, Miltão não queria encrenca com Dona Alzira, que jurara matar Reizinho se ele se metesse com bandido. Mas ele queria porque queria o emprego e consegui.

"Você esta trabalhando para quem? Reizinho viu nos olhos de Alzira. Porra. A mãe antes de surrá-lo, avisava pelos olhos. Para quem você esta trabalhando, menino? Ele não respondeu. Alzira pegou a mão do filho e arrancou a faixa de gaze encardida que envolvia o ferimento. Você esta metido com esses bandidos, José Luís? Observou a ferida. Eu sabia, ela disse. Responda. Com esses traficantes?"

No decorrer de sua vida na favela Reizinho não se importava mais com o que a mãe queria dele. Ele precisava de dinheiro, ele precisava roubar. Foi assim que foi parar todos os dias nas principais avenidas do Rio, junto com outros pivetes, caco de vidro no bolso, sinal fechado, hora do assalto. Dormindo nas ruas, passava dias sem voltar para casa, só queria roubar e se drogar. Sabia que não era bom o que estava fazendo, mas também não era pior do que voltar para casa e ser espancado pela mãe.

Depois de ser encontrado e ter voltado para o morro, Reizinho se viu novamente atrás de Miltão. Agora, mais do que nunca, queria porque queria fazer parte do tráfico. Era tudo tão fácil. Ganhou sua primeira arma de Miltão e foi forçado a passar pelo teste para entrar no grupo. Matou o primeiro homem na sua vida, e então se tornou o braço direito do Miltão. Reizinho era inteligente, esforçado e Miltão admirava isso nele. Conheceu também caras parceiros de Miltão, caras como: Leitor e Fake. Que passaram a ser seus melhores amigos, conselheiros e parceiros de tráfico. Por mais que Reizinho fosse um menino, ele tinha ambição, ele estava sempre querendo mais. Leitor era um cara informado, vivia no tráfico mas amava seus livros, dizia que informação era tudo que tinha de verdade. Fake só queria saber de música e sonhava em ser o próximo astro do hip hop.

"Estava azedo aquele dia. E a culpa não era de Fake, Leitor, nem de ninguém. Uma sensação estranha. Não fora boa ideia ir a casa de Duque naquela tarde. Havia dias andava com o endereço do negro no bolso, desde que o matara. Um barraco caindo aos pedaços, muito pior que o seu. Três filhos pequenos, sujos, desgrenhados e famintos. A mulher resignada, estirando roupa no varal. E que diabos ele tinha a ver com aquilo? Agora, porra, além do pai, porra, ia também se preocupar com aquela lavadeiras? Porque não esquecia? Sim, matara, e daí? Duque era uma traidor. E traidor, nós matamos, dizia Miltão. Quando alguém entra nesse negócio, deve saber o seguinte, se trair, morre, é a lei, traiu, morreu. Porra."

Reizinho aprendeu muita coisa enquanto trabalhava para Miltão. Aprendeu e ensinou. Mas chegou o momento que aquilo também não era mais suficiente. Era tudo muito limitado. Crescera e agora merecia um posto melhor. Ele queria tudo. Ele queria Miltão fora da jogada. Ele queria o morro do Berimbau, e ele iria ter, independente de quantos traidores teria que matar.

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Comentando o que li ♥ :

Surpreendente, divertido, real e muito interessante são palavras que resumem tudo sobre o livro Inferno. Gente, a realidade explicita nesse livro leva qualquer leitor para um mundo totalmente ao averso. A visão de dentro do tráfico, a realidade de garotos que se envolvem com tudo tão cedo, seus dramas, seus medos. É tudo tão interessante, curioso. E outra coisa, a escrita de Patricia Melo é uma coisa de louco. O ritmo desse livro é eletrizante. Quando você termina um parágrafo tem que parar e respirar porque é tudo cheio de pontos e virgulas que não tem espaço para desviar a atenção para outras coisas. Por isso digo que esse livro foi mais que uma surpresa literária, ele foi um presente sem igual. Então só posso garantir que quem ler vai ter a mesma impressão que eu. Inferno trouxe para mim outra visão dos morros, das favelas e da guerra entre traficantes no Rio de Janeiro. Mesmo sendo um livro publicado a 13 anos atrás (tem noção?), é um exemplar digno de ser guardado e apresentado futuramente aos nossos filhos. Eu a-m-e-i esse livro e espero que tenha despertado a curiosidade de vocês.

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